A Shell na África

 

 


Eduardo Galeano

Fonte: Emcontrarte — Boletim Informativo N 54. 13 de março de 2005 / Congresso Bolivariano dos Povos - Secretaria de Organização

13 de março de 2005

Tradução Imediata

 

As empresas petrolíferas Shell e Chevron arrasaram o delta do rio Níger. O escritor Ken Saro-Wiwa, do povo ogoni da Nigéria, denunciou o fato em um livro publicado em 1992: -O que a Shell e a Chevron fizeram ao povo ogoni, às suas terras e a seus rios, a seus riachos, à sua atmosfera, chega ao nível de um genocídio. A alma do povo ogoni está morrendo e eu sou sua testemunha.

Três anos depois, no começo de 1995, o gerente geral da Shell na Nigéria, Naemeka Achebe, explicou assim o apoio de sua empresa à ditadura militar que espreme esse país: -Para uma empresa comercial que tem a proposta de realizar investimentos, é necessário um ambiente de estabilidade. As ditaduras oferecem isso. Uns meses mais tarde, no fim de 95, a ditadura da Nigéria enforcou Ken Saro-Wiwa. O escritor foi executado junto com outros oito ogonis, também culpados de lutar contra as empresas que aniquilaram suas aldeias e reduziram suas terras a um vasto deserto. E muitos outros tinham sido assassinados antes pelo mesmo motivo.

O prestígio de Saro-Wiwa deu a este crime uma certa ressonância internacional. O presidente dos Estados Unidos declarou então que seu país suspenderia o abastecimento de armas à Nigéria, e o mundo o aplaudiu. A declaração não foi lida como uma confissão involuntária, embora o fosse: o presidente dos Estados Unidos reconhecia que o seu país estava vendendo armas ao regime carniceiro do general Sani Abacha, que vinha executando pessoas em um ritmo de cem indivíduos por ano, em fuzilamentos ou enforcamentos convertidos em espetáculos públicos.

Um embargo internacional impediu depois que qualquer país assinasse novos contratos de venda de armas à Nigéria, porém a ditadura de Achaba continuou multiplicando seu arsenal graças aos contratos anteriores e aos adendos que, por milagre, foram agregados aos contratos, como elixires da juventude, para que esses velhos contratos tivessem vida eterna.

Os Estados Unidos vendem cerca da metade das armas do mundo e compram cerca da metade do petróleo que consomem. Das armas e do petróleo dependem, em grande medida, sua economia e seu estilo de vida. A Nigéria, a ditadura africana que mais dinheiro destina aos gastos militares, é um país petrolífero. A empresa anglo-holandesa Shell leva embora a metade; mas a estadunidense Chevron arranca da Nigéria mais que a quarta parte de todo o petróleo e do gás que explora nos vinte-e-dois países onde opera.

O preço do veneno

Nnimmo Bassey, compatriota de Ken Saro-Wiwa, visitou terras latino-americanas no ano seguinte ao do assassinato de seu amigo e companheiro de luta. Em seu diário de viagem, conta instrutivas histórias sobre os gigantes petrolíferos e suas impunes devastações.

Em Curaçao, frente às costas da Venezuela, a empresa Shell erigiu em 1918 uma grande refinaria, que desde então vem lançando fumos venenosos sobre a pequena ilha. Em 1983, as autoridades locais mandaram parar. Sem incluir os prejuízos à saúde dos habitantes, que são de valor inestimável, os especialistas estimaram em 400 milhões de dólares a indenização mínima que a empresa deveria pagar para que a refinaria continuasse operando.

A Shell não pagou nada, e em troca comprou a impunidade a um preço de fábula infantil: vendeu sua refinaria ao governo de Curaçao, por um dólar, mediante acordo que liberou a empresa de qualquer responsabilidade pelos danos que havia infligido ao meio-ambiente, em toda a sua fodida história.

 

15-04-2005

Shell en África

Eduardo Galeano

Emcontrarte

Las empresas petroleras Shell y Chevron han arrasado el delta del río Níger. El escritor Ken Saro-Wiwa, del pueblo ogoni de Nigeria, lo denunció en un libro publicado en 1992: -Lo que la Shell y la Chevron han hecho al pueblo ogoni, a sus tierras y a sus ríos, a sus arroyos, a su atmósfera, llega al nivel de un genocidio. El alma del pueblo ogoni está muriendo y yo soy su testigo.

Tres años después, a principios de 1995, el gerente general de la Shell en Nigeria, Naemeka Achebe, explicó así el apoyo de su empresa a la dictadura militar que exprime a ese país: -Para una empresa comercial que se propone realizar inversiones, es necesario un ambiente de estabilidad Las dictaduras ofrecen eso. Unos meses más tarde, a fines del 95, la dictadura de Nigeria ahorcó a Ken Saro-Wiwa. El escritor fue ejecutado junto con otros ocho ogonis, también culpables de luchar contra las empresas que han aniquilado sus aldeas y han reducido sus tierras a un vasto yermo. Y muchos otros habían sido asesinados antes por el mismo motivo.

 

El prestigio de Saro-Wiwa dio a este crimen cierta resonancia internacional. El presidente de Estados Unidos declaró entonces que su país suspendería el suministro de armas a Nigeria, y el mundo lo aplaudió. La declaración no se leyó como una confesión involuntaria, aunque lo era: el presidente de Estados Unidos reconocía que su país había estado vendiendo armas al régimen carnicero del general Sani Abacha, que venía ejecutando gente a un ritmo de cien personas por año, en fusilamientos o ahorcamientos convertidos en espectáculos públicos.

 

Un embargo internacional impidió después que ningún país firmara nuevos contratos de venta de armas a Nigeria, pero la dictadura de Achaba continuó multiplicando su arsenal gracias a los contratos anteriores y a las addendas que por milagro se les agregaron, como elixires de la juventud, para que esos viejos contratos tuvieran vida eterna.

 

Los Estados Unidos venden cerca de la mitad de las armas del mundo y compran cerca de la mitad del petróleo que consumen. De las armas y del petróleo dependen, en gran medida, su economía y su estilo de vida. Nigeria, la dictadura africana que más dinero destina a los gastos militares, es un país petrolero. La empresa anglo-holandesa Shell se lleva la mitad; pero la estadounidense Chevron arranca a Nigeria más de la cuarta parte de todo el petróleo y el gas que explota en los veintidós países donde opera.

 

 

El precio del veneno

 

Nnimmo Bassey, compatriota de Ken Saro-Wiwa, visitó tierras latinoamericanas al año siguiente del asesinato de su amigo y compañero de lucha. En su diario de viaje, cuenta instructivas historias sobre los gigantes petroleros y sus impunes devastaciones.

 

En Curaçao, frente a las costas de Venezuela, la empresa Shell erigió en 1918 una gran refinería, que desde entonces viene echando humos venenosos sobre la pequeña isla. En 1983, las autoridades locales mandaron parar. Sin incluir los perjuicios a la salud de los habitantes, que son de valor inestimable, los expertos estimaron en 400 millones de dólares la indemnización mínima que la empresa debía pagar para que la refinería continuara operando.

 

La Shell no pagó nada, y en cambio compró impunidad a un precio de fábula infantil: vendió su refinería al gobierno de Curaçao, por un dólar, mediante un acuerdo que liberó a la empresa de cualquier responsabilidad por los daños que había infligido al medio ambiente en toda su jodida historia.

Fuente: Boletín Informativo N 54. 13 de marzo de 2005

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