intro

A partir da segunda metade do séc. XX, os meios de comunicação (mídia) abandonaram o papel inicial de mediadores e intermediários, para assumirem um design cada vez menos mediato – indireto, que se relaciona por meio de um terceiro – e mais imediato – próximo, rápido, veloz, instantâneo, sem nada de permeio. A tela do vídeo e do computador tornaram-se o local, a encruzilhada da comunicação de massa. Instrumentos de passagem por excelência, os terminais-vídeo são as superfícies visíveis da mudança de um universo analógico em imagens e sons produzidos sinteticamente. O bombardeamento de informações digitais acelerou o processo de fragmentação da realidade, desvelando à percepção humana um sem fim de relações, fronteiras, pontos de contato entre fenômenos, interfaces.

O jornalista descobre-se cada vez mais investido no duplo papel de intérprete e arquiteto destas interfaces, tentando aproximar realidades heterogêneas com o objetivo de conferir-lhes algum sentido ou significado. Só que se já são vários e complexos os planos por onde ele atua, também multiplicaram-se os suportes através dos quais a informação circula. Suportes que definem-se muito mais pela qualidade das conexões entre os meios do que propriamente pelas características específicas de cada linguagem.

A cada tipo de sociedade corresponde uma máquina e uma forma de arte. Se hoje podemos traçar a genealogia dos objetos técnicos, classificar as imagens – sejam elas analógicas ou digitais – e indagar sobre os seus suportes, é porque a arte e a técnica resistiram ao tempo e à própria morte. Suportar e resistir são sinônimos. O filósofo Gilles Deleuze dizia que se a informação molda e define uma sociedade de controle, a contra-informação só se efetiva num ato de resistência. “Poderíamos dizer, então, que arte é aquilo que resiste”, concluiu. Todo ato de resistência seria, de certo modo, uma obra de arte, e toda arte conteria germes de resistência. “O ato de resistência possui duas faces. Ele é humano e é também um ato artístico. Somente o ato de resistência resiste à morte, seja sob a forma de uma obra de arte, seja sob a forma de uma luta dos homens”, propôs Deleuze. Apontar o ato de resistência como a interface comum entre comunicação e arte numa sociedade de controle é a primeira etapa para compreender o papel das imagens contemporâneas.

Nesse sentido, durante o curso serão abordadas as seguintes modalidades de imagens: a imagem fotográfica (do processamento fotoquímico à manipulação digital); a imagem cinematográfica (privilegiando as categorias imagem-movimento, imagem-tempo e imagem-cristal propostas por Gilles Deleuze) e a prevalência da imagem eletrônica; a imagem eletrônico-digital (video-arte, computação gráfica); interfaces entre as diferentes imagens e linguagens artísticas: tecnologia multimídia e aspectos da realidade virtual.

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