capitalism a ghost story

Trechos do último livro de Arundhati Roy: “Capitalism: A Ghost Story” – Capitalismo: Uma História de Fantasma(s), lidos pela autora em recente palestra na New School de Nova York e no programa Democracy Now (vídeos abaixo em inglês).
Tradução: Mario S. Mieli

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“RIL faz parte de um punhado de empresas que governam a Índia. Algumas das outras empresas são as que pertencem aos Tatas, Jindals, Vedanta, Mittals, Infosys, Essar. Sua corrida para o crescimento extravasou para a Europa, a Ásia Central, a África e a América Latina. Suas redes são lançadas longe; elas são visíveis e invisíveis, na superfície, assim como subterrâneas. Os Tatas, por exemplo, operam mais de 100 empresas em 80 países. Trata-se de um dos maiores e mais antigos conglomerados de empresas de energia da Índia do setor privado. E são donos de minas, campos de gás, fábricas de aço, telefone, TV a cabo e redes de banda larga, e governam inteiros municípios. Manufaturam carros e caminhões, são donos da cadeia Taj Hotel, Jaguar, Land Rover, Daewoo, Tetley Tea, uma editora, uma cadeia de livrarias, uma marca famosa de sal iodado e a gigante do setor de cosméticos Lakme — a qual, creio, acabam de vender. Seu slogan publicitário poderia ser, facilmente: Você não pode viver sem nós”.
“Conforme as regras do Evangelho do Grande Derramamento, quanto mais você tem, tanto mais você pode ter.”

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“Qual entre nós, pecadores, atiraria a primeira pedra? Não eu, que vivo das royalties das editoras corporativas. Todos nós assistimos Tata Sky, surfamos a net com a Tata Photon, nos desclocamos com os táxis Tata, ficamos nos Hotéis Tata, tomamos nosso chá Tata em xícaras de porcelana Tata e o remexemos com colheres de chá feitas com aço da Tata Steel. Compramos livros Tata nas livrarias Tata. Comemos o sal Tata. Estamos em estado de sítio.”

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“Se a marreta da pureza moral deva ser o critério para o arremesso de pedras, então as únicas pessoas que se qualificam são aquelas que já foram silenciadas. Aquelas que vivem fora do sistema; os fora-da-lei nas florestas ou aqueles cujos protestos nunca são cobertos pela imprensa, ou os bem-comportados destituídos, que vão de tribunal em tribunal testemunhando e dando testemunho.”

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Trecho da entrevista de Arundhati Roy conduzida por Amy Goodman:

“E, como você sabe, a forma toda como o capitalismo funciona não é tão simples como parece ser. Nós nem sequer compreendemos o jogo de longo prazo, sabe? E, é claro , a América é o lugar onde isso começou, de certa forma, com fundações como a Rockefeller, a Ford e a Carnegie. E o que foi – qual era a ideia deles? Agora parece parte de sua vida quotidiana, como a Coca-Cola ou o café, mas na verdade tratou-se de um salto conceitual da imaginação dos negócios, quando uma pequena percentagem dos lucros maciços desses magnatas do aço financiou a constituição dessas fundações, que, em seguida, começaram a controlar as políticas públicas. Foram realmente eles que deram o dinheiro-semente para a ONU, para a CIA, para o Conselho de Relações Exteriores. E como eles, em seguida, quando o capitalismo dos EUA começou a se dirigir para fora, para buscar recursos no exterior, quais os papéis que desempenharam a Rockefeller, a Ford, etc.? Quanto foi crucial a Fundação Ford na imaginação de uma sociedade como a norte-americana, que vivia do crédito? E essa ideia já foi importada em lugares como o Bangladesh, a Índia, sob a forma de microcrédito, e esse tipo de microcapitalismo também tem levado a uma série de dificuldades, a uma série de matanças.”

Arundhati Roy entrevistada por Amy Goodman – Democracy Now de 9 de abril de 2014

Palestra de Arundhati Roy e Siddhartha Deb em 27 de março de 2014 promovida pela New School de Nova York e pela editora Haymarket Books, por ocasião do lançamento do livro de Arundhati “Capitalism: A Ghost Story” – “Capitalismo: Uma História de Fantasma(s)”

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