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Quando é Satã que dita as regras

Por: Gianni Tirelli
Fonte: stampalibera
Tradução: Mario S. Mieli

A exceção, não somente confirma a regra, como não existe regra sem exceção. Mas quando é a exceção que se torna a regra, então todo a estrutura social precedentemente formulada, consagrada e operacionalizada perde a sua força originária, mortificando seus pressupostos e objetivos. Nessa condição, tudo passa a ser relativizado, e a verdade deixa de ser parâmetro absoluto de comparação e objetivo a ser alcançado, mas se torna subalterna ao mero interesse particular – seja ele de natureza material, psicológica ou psiquiátrica.

A excepcional reviravolta das regras pré-existentes que, desde a origem, o ser humano considerava a condição irrenunciável, sem a qual nenhum processo vital teria podido se materializar, levou “as exceções” a se tornarem um modelo a seguir, em todas as formas, interpretações e sugestões; a moderna cultura daquele Liberalismo que, com base na licenciosidade, no abuso e na impostura selou o seu perverso poder e a sua índole necrófila. Tudo isso, apoiando-se nos instintos e nos lados piores e mais recessos do indivíduo porque, só depois de tê-los satisfeitos plenamente, poderá ser si mesmo por completo. A grande habilidade do liberalismo, nesse plano de mutação dos princípios, dos valores e dos deveres, é extraída de sua surpreendente capacidade de ter removido dos indivíduos o “sentimento de culpa”, “o temor a Deus”, convencendo as massas ocidentais de que se tratava de um tabu do qual era necessário libertar-se; pré-história! Uma concepção retrógrada da vida e que, portanto, precisava ser extirpada o quanto antes, sem se pensar muito a respeito, para evoluir, assim, a uma “modernidade” realizada, purgada de primitivas e bárbaras limitações de natureza ética, moral e religiosa, que impediam ao homem de saborear a vertigem de uma verdadeira e completa liberdade. Nenhuma dúvida sobre isso! Um exercício de ilusionismo muito bem sucedido, digno da melhor escola luciferina.

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”Ao interior das modernas sociedades de massas, a Ideologia da Destruição (necrofilia) passa por uma espécie de evolução – Os interesses do ser humano se transferem daquilo que é natural, espontâneo, vivo e humano, para aquilo que é artificial, sintético, mecânico, divertido mas não alegre e satisfatório – mas sim frustrante – a sexualidade se torna uma capacidade técnica, os sentimentos são nivelados e às vezes substituídos com o sentimentalismo – a verdade é relativizada, expropriada da sua função iluminadora e a exceção, homologada e massificada”. Neste último meio século, a estrutura liberal (em virtude de sua potência midiática de convicção e de uma obra de falsificação da realidade/verdade sem precedentes), foi capaz de transfigurar a excepcionalidade dos comportamentos humanos, eximindo o indivíduo de qualquer responsabilidade pessoal, tomada de consciência, vergonha e sentimento de culpa – exonerando-o de uma correta análise autocrítica de seus atos e suas escolhas.

Assim, esperteza e burla suplantaram o arcabouço ético e foram em seguida assimiladas como práticas relacionais – mas não só: como instrumento lícito e irrenunciável, para a sobrevivência do Sistema de Satã. Ao verdadeiro foi substituído o falso (ponto de diamante do relativismo demoníaco e irmão gêmeo do oximoro) – os desvalores, comercializados por poucos tostões em escala planetária, suplantaram os autênticos: da alma e do espírito. O conceito de “liberdade” é transfigurado em licenciosidade e o processo de homologação midiático é posto em prática pelo sistema, em democracia – a falsificação depôs o original, e o extermínio perpetrado contra a natureza se fez progresso. Um plano bem sucedido, onde a exceção fez terra arrasada de todos os princípios e valores, e o relativismo tornado em cultura “moderna” e regra obrigatória.

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Um mundo de ponta cabeça, portanto, onde a exceção triunfa e dita as regras – onde os cargos de responsabilidade se alcançam pelos deméritos – onde a capacidade de mentir, a comercialização da dignidade, a corrupção e a propensão para trair se tornaram as inéditas credenciais para se ter acesso ao poder, ao privilégio e à impunidade; um mundo perdido, que reduziu a felicidade dos seres humanos a uma extemporânea exceção, e que traduziu a dor física e psicológica do homem em regra “inemendável”.

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