>> Filme: The Mill and the Cross (O Moinho e a Cruz) e crítica “Uma viagem na paixão de Brueghel”

Filme: The Mill and the Cross (O Moinho e a Cruz) e crítica “Uma viagem na paixão de Brueghel”

O filme inteiro, legendado em português:
The Mill and the Cross [Legendado]

http://youtu.be/16ImxnBHknw


Trailers do filme
The Mill and The Cross (2011) Movie Trailer HD



The Mill and the Cross (official trailer)

Uma viagem na paixão de Brueghel

Por: Michele Emmer
Fonte: alfapiù, cinema 27/5/2012
Tradução: Mario S. Mieli

Os filmes se baseiam em imagens em movimento, os espectadores ficam parados, os quadros são imagens fixas. É completamente natural que o cinema, às vezes, procure tomar como modelo a pintura. Um exemplo: o belo filme “Faust” de Sokurov, que venceu o Festival de Cinema de Veneza. Sokurov escreveu que o filme é uma leitura daquilo que permanece nas entrelinhas, de que cor é o mundo que dá origem às ideias de relevo?” Dario Zonta acrescentou que “somos catapultados dentro de um outro universo, quase fosse o inferno… antes de chegar à essência do filme, o espectador deve firmar um pacto com o diabo, deve perder os olhos e os sentidos, fica desorientado… é como entrar em um quadro de Brueghel”.

Jay Weissberg, na revista Variety, falou da grande influência da pintura flamenga e holandesa no filme, em particular dos pintores David Teniers e Henri met de Bles. Teniers (1610–1690) foi casado com Anna Brueghel, irmã de Jan Brueghel, o Velho (1568 -1625) e neta de Pieter Brueghel, o Velho (1525-1569). Um outro filme nos faz fazer um viagem no inerior de um quadro de Pieter Brueghel, o Velho. Um pouco de história: o Condado de Flandres foi fundado em 862, ao oeste da França; no século XII, uma parte dele se torna francesa. Em 1384, a parte restante passa ao domínio do Duque de Burgundy, em 1477 sob a dinastia Hasburg, e em 1556 sob os Reis de Espanha. Carlos V, eleito imperador em 1519, estipulou, em 1549, que as Dezessete Províncias (também chamadas Os Países Baixos Espanhóis) tinham que ser uma entidade separada do resto do Império Espanhol. Em 1556 abdica e o reino passa ao filho, Felipe II (1527-1598).


Pieter Brueghel, o Velho, Subida do Calvário, 1564 (Kunsthistorisches Museum,Viena)

Em 1564, Pieter Brueghel, o Velho pinta “A Subida do Calvário”, seu quadro de maior proporção. No centro da pintura, sob a indiferença geral, Cristo cai no transporte da cruz até o Calvário. Na parte superior direita, uma clareira com uma multidão de pessoas dispostas em círculo. A paisagem é flamenga, com exceção da grande rocha onde aparece o grande moinho. Imagens de morte, corvos negros, os crânios, as rodas levantadas em paus onde seriam suspensos os condenados para serem ressequidos. A montanha é a divisão entre a vida e a morte, do lado de cá a vegetação, do lado de lá o deserto nu. A humanidade esqueceu o Cristo na Cruz. O homem vestido de branco no canto inferior direito é, talvez, um autorretrato do autor, que observa parado. No centro, cavaleiros vestidos de vermelho, os soldados espanhóis que perseguem a população.

O diretor polonês Lech Majewski quis realizar um filme sobre o quadro de Brueghel, ou melhor, dentro do quadro. O pintor, interpretado por Rutger Hauer, anda à procura de personagens e acontecimentos que, aos poucos, compõem o grande quadro. O pintor procura histórias, o diretor reconstrói histórias, seguindo-o. São centenas de personagens, entre os quais o amigo e colecionador de arte Nicholas Jonghelinck (Michael York) , que encomendou o quadro. Charlotte Rampling é Nossa Senhora. O filme, a viagem, é ao interior do quadro que se vai compondo. A Natureza, a floresta, o nevoeiro, a luz das tochas. E os fundos, os ambientes são aqueles do quadro. No grande moinho, o amolador, o trabalho, os rostos, as cores, os cavalos e a aranha, a estrutura da tela. Ao quadro caberá contar muitas histórias, e como a aranha, deverá encontrar seu ponto de apoio. E entre o terror, os cavaleiros vestidos de vermelho capturam, batem, matam e atam à roda o condenado.



O diretor utiliza efeitos especiais e trata com atenção as cores, para tornar a imersão no quadro sempre mais profunda. Precisamos ‘sentir’ que estamos ali, vivendo com os personagens mas, ao mesmo tempo, estamos assistindo à construção de uma obra de arte, o quadro, sim, mas também o filme, que no quadro se inspira mas querendo apresentar uma diferente sensação visual daquelas imagens, que contam histórias como as contava o quadro. O método de Majewski consiste em combinar tomadas realizadas em digital de três maneiras diferentes, com atores filmados diante de um ‘blue screen’, com a sucessiva integração de vários fundos, com tomadas efetuadas na Polônia, República Tcheca, Áustria e Nova Zelândia, em paisagens acuradamente escolhidas, com um grande fundo em 2D do quadro de Brueghel pintado sobre tela pelo próprio Majewski.

O diretor e o editor sobrepuseram, camada em cima de camada, os vários elementos, no local de pós-produção. O que permitiu ao diretor de trabalhar ele mesmo como um pintor. A aventura é bastante envolvente, há alguns momentos lentos e um pouco entediantes, algumas vezes o jogo dos fundos não resulta perfeito, mas há momentos muito intensos tanto em termos visuais quanto emocionais. O filme acaba mostrando o verdadeiro quadro com um zoom ao revés, na parede ao lado, está dependurado o outro grande quadro que tornou famoso o pintor, “A torre de Babel”. Um filme que vale a pena ver, que está em projeção (tanto por dizer) em uma pequena sala, em Roma, somente na parte da manhã, das 11 às 13 h. É o mercado!

The Mill and The Cross, dirigido e produzido por Lech Majewski, escrito por Michael Gibson e Lech Majewski, diretor de fotografia Lech Majewski e Adam Sikora, com Rutger Hauer, Michael York, Charlotte Rampling, Joanna Litwin, Dorota Lis. Produção Angelus Silesius, Polônia-Suécia, 2011.

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