Grécia: o segundo julgamento de Sócrates
Fonte: Radio Canada e agência France Presse
Tradução: Mario S. Mieli




Em pleno tumulto econômico e a alguns dias de eleições legislativas cruciais, os gregos assistirão a um segundo processo de Sócrates, julgado e condenado há aproximadamente 2.500 anos.

O filósofo Sócrates foi processado por ter desafiado as leis da cidade.

“Estamos falando, aqui, de democracia versus oligarquia, de liberdade de expressão em tempos de crise nacional, da sabedoria dos eleitores versos sua não-sabedoria”, dizem os organizadores desse processo fictício que queriam aproveitar a oportunidade para “debater todos esses temas” de atualidade.

Um painel de dez juízes europeus e americanos ouvirá os argumentos de advogados internacionais, divididos entre defensores e acusadores do filósofo.

Segundo os organizadores, 800 pessoas assistirão ao processo, além dos internautas que poderão seguir os debates no site da Internet do Centro Cultural Onassis.

Os juízes e o público deverão julgar se era Sócrates cupado de não respeitar os deuses da cidade, de introduzir novas crenças e de corromper a juventude.

Naquele tempo, Sócrates denunciava a Doxa, a opinião corrente, que poderíamos interpretar como “a questão dominante”. Desse modo, ele obrigava seus interlocutores a refletir e a expressar seus pensamentos.

Platão questionava conceitos como a política e a moral, o que lhe trouxe numerosos inimigos.

“Naturalmente, há uma relação entre o processo de Sócrates e a atualidade, mas não somente a atualidade grega: o assunto é diacrônico e intercultural” explicou Anthony Papadimitriou, presidente da fundação Onassis, organizadora do evento.

Por meio de Sócrates, “abordamos os limites da liberdade de palavra e de pensamento. Até onde pode ir o cidadão que é contra o regime? Quais são os direitos do regime democrático contra os cidadãos?” explica ele.

“A questão da justiça foi também colocada. A ideia da inocência de Sócrates foi um pretexto para difamar a democracia ateniense. Trata-se, portanto, de reestabelecer a reputação da democracia grega”, diz Papadimitriou, que apoiará a cidade ateniense.

Ao seu lado, o advogado francês que defenderá Sócrates, apresenta sua linha de defesa como segue: “Não existe pena sem lei”. “Será que a democracia deve temer as opiniões contrárias e o livre arbítrio? Será que as ideias devem ser condenadas?”

Os organizadores deste processo fictício estimam que o processo poderia ser benéfico para a Grécia em crise.

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