Pedagogia do escracho

Por: Silvio Mieli
Fonte: Brasil de Fato, edição número 479




“Escracho” e “esculacho” são as palavras mais adequadas para definir as recentes manifestações dos grupos de jovens que resolveram redesenhar a geopolítica da memória, da verdade e da justiça.

Esses termos resumem com muita propriedade o que se tornou o país sob o regime militar e, ao mesmo tempo, designam o que os colaboradores diretos ou indiretos dos crimes cometidos durante a ditadura merecem: uma “admoestação feita de maneira ultrajante”, seguida pelo respectivo julgamento oficial.

O humor e a ironia servem muitas vezes não só para retratar como as coisas são, mas como deveriam ser. Operam uma espécie de correção da realidade. Assim, nas manifestações de “escracho”, que apontam com o dedo o endereço domiciliar ou o lugar onde trabalham ex-membros dos aparatos da repressão, o objetivo é mapear o território concreto a partir do qual a própria Comissão da Verdade deveria se movimentar (ainda que não lhe caiba a prerrogativa de julgar).

Além do ineditismo desta forma de ação entre nós (característica de países como Chile e Argentina), os “escrachos” revelam a convergência de duas vertentes culturais: a dos militantes e a dos ativistas.

De um lado a tradição militante latino-americana, influenciada pela sua mística, que impregnou o nosso imaginário político de bandeiras, cantos, danças e slogans. De outro lado a figura do ativista anglo-saxão (herdeiro das formas de luta pelos direitos civis nos EUA), cujo pragmatismo das ações sempre preferiu o conteúdo à forma, e privilegiou os objetivos a serem alcançados independentemente dos rituais utilizados.

Nas ações de “escracho”, assim como no movimento Occupy, parece que as forças militantes a ativistas se encontram e dialogam entre si. E se o termo occupy é a grande metáfora que passou a sintetizar a necessidade de resgatarmos aquilo que nos foi roubado pelo capital, que o “escracho” simbolize uma ação de retomada da justiça e da verdade, sequestradas pelo que restou da ditadura.


Escracho denuncia torturador de Dilma


quem torturou o zé?

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