>> Quando o capitalismo digital enjoa e enoja – Enjoy!!!

Quando o capitalismo digital enjoa e enoja – Enjoy!!!

Fonte: Wu Ming
Tradução: Mario S. Mieli


Inauguração do “Apple Store Porta di Roma” [Dança e festa antes da abertura por TheTecnoBlog]

Pode ser que alguém já tenha visto esta cena, mas muitos outros não, por isso a propomos.
Roma, três dias atrás, a inauguração de um novo Apple Store. Aqueles que vocês estão vendo no vídeo são os vendedores, força-trabalho que participa com demasiado zelo à própria ridicularização.

Identificar-te com a multinacional que te explora, com bilhões e que te atira ossos já roídos e ainda ‘tens que agradecer’, porque aquela é uma empresa ‘cool’.

A coreografia da Apple Store ‘dá corpo’ ao fetichismo da mercadoria digital: gostaria de ocultar a exploração através de uma cortina de trejeitos e sorrisos, mas o resultado é torná-la mais visível. Os comentários no YouTube – geralmente de baixíssimo nível – não são nada leves. Essas imagens dão nojo também a muitos insuspeitáveis (até a algum ‘fanboy’ da Maçã). Houve quem ficou perturbado e enojado mas não o diz: é forte demais o medo de se fazer passar por “comunista”, brrrr.

Seria preciso escrever alongadamente a respeito, se não o tivéssemos já feito 1 (e com Steve Jobs ainda vivo).

A sensação, de todo jeito, é de se ter passado um sinal. Talvez não sejam mais ‘aqueles tempos’: o capitalismo voltou a enojar. Não por acaso, na Europa e no mundo, ele quer ser ‘temido’: sabe muito bem que não é mais amado. A ‘Austerity’ é política do medo.

[Sobre este argumento, assinalamos um ótimo post de Jumpinshark 2: Apple Store: dança macabra da inovação e trabalho humilhado.]

Notas:
1. este link, com o artigo “Fetichismo da mercadoria digital e exploração escondida: os casos Amazon e Apple” tem o texto disponível em italiano, francês, inglês e espanhol.
2. Este link está em italiano.


Dos “Comentários” de Wu Ming 1:
Você está arrombando uma porta aberta, tanto que o nosso post sobre o fetichismo digital tinha como subtítulo “Os casos Amazon e Apple”, no texto era citado também o Google, e se procurava articular uma crítica ao fetichismo da mercadoria digital em seu conjunto, ou seja, aquele mascaramento ideológico que leva a se considerar a tecnologia – especificamente a rede – uma força autônoma e a não ver as relações sociais (de propriedade, de exploração) incorporados nela.

Em todos os casos, o “così fan tutti” não é uma contra-argumentação eficaz, até porque se falamos de fetichismo, precisamos falar dos fetiches. Para fazer entender uma argumentação, é preciso escolher o exemplo melhor e mais significativo. Atualmente, não há produtos eletrônicos mais fetichizados que os da Apple, não tem marca mais simbolicamente “carregada”. Logo depois, o Google e a Amazon.

Essas multinacionais têm em comum sobretudo uma coisa: mais elas tendem a se impor como oligarquias econômicas mundiais e a impor modelos de consumo homologantes (o ficar na fila e a dança em grupo são modalidades reveladoras), mais veiculam uma falsíssima e sumamente hipócrita imagem de bondade, inconformismo, diferença (“Don’t be evil”, “Think different”, Jeff Bezos diz que quer salvar o mundo, etc.) E omito os milhões de toneladas de melaço apologético e desinformante despejado na opinião pública depois da morte de “São” Steve Jobs…?

Para concluir, se a Apple não investisse tanto naquelas que, em suma, são técnicas totalitárias de propaganda e “biopoder”, e se não parecesse tão hipócrita, seria criticada sim, mas como uma Sony qualquer, como uma multinacional qualquer. Ao contrário, as relações que provoca estão à altura das operações discutíveis – e também abomináveis – que realiza a cada dia, enquanto espalha uma retórica floreal sobre as suas próprias supostas virtudes.

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